Meditação das Doze Noites Santas Texto: Edna Andrade
“O primeiro degrau da escada se assenta na esfera humana
terrena e cada degrau nos leva gradualmente à esfera macrocósmica, à esfera
divina.”
INTRODUÇÃO
É o assim denominado período que vai da noite de Natal (dia
25 de dezembro) até a noite anterior ao dia dos Reis (5 de janeiro), quando,
segundo a antiga tradição cristã,
bençãos divinas se derramam sobre nós através dos portais das 12
constelações do Zodíaco, o cinturão de estrelas em volta do espaço sideral no
qual existimos.
As 12 badaladas da meia noite do Natal anunciam a vigília
que é um preparo espiritual, como se as Noites Santas fossem uma prévia dos 12
meses do ano que se inicia.
As virtudes recebidas das hierarquias espirituais nesta
época, através da meditação, injetam suas forças no nosso desenvolvimento
espiritual ao longo do novo ano.
Uma atenção especial deveria ser dada aos sonhos como
mensageiros do espírito.
A tradição das 12 Noites Santas e o Zodíaco
Podemos associar esta tradição à sabedoria antiga do Oriente
através do relato da Jornada dos Reis Magos do Evangelho de Mateus. 2.2 a 10 Na
noite em que nasceu o Salvador, uma estrela se iluminou e este era o sinal há
muito esperado pelos Iniciados do Oriente, que durante 12 noites seguintes
seguiram o brilho da estrela que os precedia até alcançar a criança que havia
sido anunciada como o Messias.
O relato do Evangelho de Mateus nos remete para os mistérios
espirituais da antiguidade, etapa do desenvolvimento da humanidade da época do
assentamento na região do Mediterrâneo quando aqueles que eram iniciados
desenvolviam a visão clarividente através da qual, o que hoje é considerado
pela astronomia como corpos siderais, eram vistos por eles como a manifestação
de seres espirituais em atividade constante e transmutação contínua.
A este antigo estado de consciência clarividente está
associado o surgimento da astrologia, esta sabedoria baseada na analogia do
movimento e posição dos astros com o destino humano. Ao fazermos a vigília das
Noites Santas podemos retomar a jornada dos Reis Magos através da ligação
interior com este sabedoria a respeito das 12 constelações do Zodíaco.
Quem são os seres que vamos encontrar na jornada das 12
Noites Santas?
Rudolf Steiner refere-se às hierarquias espirituais em
muitas de suas palestras. Inicialmente ele lhes dedica um capítulo na Ciência
Oculta (1905) descrevendo a atuação delas na evolução do universo e do ser
humano.
As nove hierarquias espirituais podem ser contempladas como esculturas no portão sul da Catedral de
Chartres desde o século XIII. Chartres foi a mais importante catedral gótica da
idade média e neste portão, chamado de Portão da Transubstanciação, as hierarquias
formam uma escada ascendente que representa o ensino espiritual da Escola de
Chartres. O aluno deveria, de degrau em degrau (gradualmente), adquirir
consciência destes seres espirituais que representavam diferentes estados de
consciência.
Neste aprendizado o pensamento era considerado um
instrumento necessário para a percepção do espiritual desde que fosse casado
com a vivência dos sentimentos e assim tornavam-se ambos, pensar e sentir,
órgãos de compreensão e de participação no mundo espiritual.
Os nomes das hierarquias se originaram de um manuscrito de
Dionísio, o Aeropagita que fundou a primeira escola esotérica cristã da
antiguidade. Dionísio, um iniciado dos antigos centros de mistérios
gregos, renomeou os seres divinos que
era chamados como os seres de Vênus, os seres de Mercúrio,etc.. a partir da
revelação do Cristo feita a ele por Paulo de Damasco em Atenas.
O manuscrito sobreviveu ao longo de séculos até ir parar em
Chartres e é intitulado: “Os Nomes divinos e a Teologia Mística”, descrevendo
dramaticamente os nove níveis de seres divinos associados em grupos de três
hierarquias que participaram da evolução da terra e do ser humano.
A primeira hieraquia inclui os Serafins, Querubins e Tronos
que iniciaram a evolução estando tanto no seu início como no seu fim – no Alfa
e no Omega, Eles atuam a partir do divino, da esfera macrocósmica que é
denominada como a esfera do Pai, de Deus, de Alá, do amor divino, da doação
cósmica. Eles são seres de um estado evolutivo anterior ao nosso, tão avançados
em sua evolução que foram capazes de fazer fluir de si a sua própria substância
dando nascimento ao atual estado do nosso sistema solar.
A segunda hierarquia é formada pelos Kyriotetes, Dynamis e
os Exusiai.
Enquanto no processo de configuração do nosso Cosmos a
primeira hierarquia atuou de fora, eles, de dentro do processo, acolheram os
planos divinos transformando-os em sabedoria, dando-lhe movimento e forma.
E por último a terceira hierarquia, os Arqueus, Arcanjos e
Anjos próximos ao seu humano porque desenvolveram a sua essência nesta etapa
evolutiva em que nós, Anthropos, nos encontramos e na qual estamos destinados a
nos tornar co-criadores da evolução…
Primeira Hierarquia -
Serafins, Querubins e Tronos
Segunda Hierarquia – Kyriotetes, Dynamis e os Exusiai
Terceira Hierarquia – Arqueus, Arcanjos e Anjos
Já nos últimos anos de sua vida, em uma palestra intitulada
a Palavra Cósmica e o Homem Individual (2/05/1923) , Rudolf Steiner chama a atenção para o fato de
que o homem auto consciente deveria re-aprender
a vivenciar as hierarquias na sua vida interna como realidades.
Nesta palestra ele diz que estes seres espirituais vem ao
nosso encontro quando nos preparamos para conhecê-los e falarão à nossa alma
primeiramente como pensamentos e sentimentos, e só depois então o perceberemos
como realidades.
Em um texto intitulado “O Zodíaco e as Hierarquias
Espirituais”, Sergej Prokofieff, atualmente um dos dirigentes mundiais da
Antroposofia, inspirado por diversas palestras de Rudolf Steiner, descreve o ensino espiritual de Chartres nesta tradição da vigília das 12 noites
santas.
Ele delineia a escada de expansão da consciência que ajuda a
dar nascimento, no último degrau, ao ser divino em cada um de nós.
O primeiro degrau da escada se assenta na esfera humana
terrena e cada degrau nos leva gradualmente à esfera macrocósmica, à esfera
divina.
Prokofieff faz uma analogia entre este caminho de
transformação e o processo de desenvolvimento descrito por R. Steiner como o
caminho de Jesus a Cristo.
Jesus nasce como a criança arquetípica destinada a se
desenvolver como um ser humano de tal forma que possa acolher em si o Eu do
Cosmo no Batismo do Jordão.
Este acontecimento místico
derramará sua influência por sobre toda a história humanidade como um
grande arquétipo de desenvolvimento espiritual.
PRIMEIRA NOITE SANTA
Soam as 12 badaladas da meia noite anunciando o Natal. Vem a aurora, atravessamos o dia, cai a noite e uma luz se acende no céu irradiando um brilho que emana da Constelação de Peixes e ilumina a primeira vigília santa.
Soam as 12 badaladas da meia noite anunciando o Natal. Vem a aurora, atravessamos o dia, cai a noite e uma luz se acende no céu irradiando um brilho que emana da Constelação de Peixes e ilumina a primeira vigília santa.
Estamos no primeiro degrau da escada que está assentada na
esfera humana terrena na dimensão da existência do anthropos – o ser da
liberdade.
A liberdade é uma das duas principais forças espirituais que
nos foram destinadas conquistar ao longo da vida. A outra força será ao final
da escada, o amor.
A sabedoria antiga nos conta que foram as forças espirituais
de Peixes que configuraram os pés humanos. Quando observamos os pés verificamos
que eles são formados em forma de uma abobada que vai propiciar simultaneamente
com a verticalização da coluna o andar ereto, primeiro grande aprendizado da
vida. Quando criança nos arrastamos, engatinhamos e finalmente nos erguemos e
nos apoiamos-nos próprios pés superando as forças da gravidade significando
isto uma grande conquista e a condição para o desenvolvimento do pensamento,
sendo o pensar o que diferencia o Humano dos outros reinos da natureza.
Ao longo da vida seguidamente fazemos uma analogia íntima
com este fato:
“andar nos meus próprios pés, saber por onde ando,”, seguir
os meus próprios passos,” “não vou andar nos passos de ninguém” são expressões
que expressam uma correta relação com a terra e com o destino em termos de
liberdade pessoal.
Nesta primeira Noite Santa recebemos da constelação de
Peixes os impulsos para se firmar nos próprios pés e se erguer, condições
básicas para alcançar a liberdade individual, meta ao qual nos destinamos como
seres individualizados.
PROPOSTA DE EXERCÍCIO/VIVÊNCIA DIA 25 DE DEZEMBRO:
Na madrugada ou ao amanhecer do dia 25 acenda uma vela e
deixe o Silêncio e a Devoção permearem e penetrarem na sua Alma e a luz da vela
iluminar o seu espaço interior, onde na vivência de seu próprio Eu, a
verdadeira Luz Solar do Eu do Cristo se faça presente!
Nesta noite, através da região de Peixes, e da Constelação
de Peixes, os sábios da humanidade derramam suas bênçãos de sabedoria sobre
voce. Eles formam um círculo protetor em sua volta emanando a força que voce
precisa para se firmar nos próprios pés e tomar o seu destino nas próprias
mãos.
Abra os braços e as pernas, formando uma Estrela de 5 Pontas
com o seu corpo e diga:
Com firmeza eu ocupo o meu lugar no mundo
Com firmeza eu caminho pelo mundo
Com Amor no íntimo do meu Ser
Com Esperança em tudo o que eu faço
Com Confiança no meu pensar
Forças jorram no meu Coração!
Nas noites seguintes repita este passo. Aqueles que se sentem
críticos e frágeis lembrem-se do estábulo de Belém onde em meio às condições
mais adversas, de frio e penúria, nasceu a Criança Divina.
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